quarta-feira, fevereiro 23, 2005

 

A moral em questão

A cada dia que passa, vemos o futebol perder sua alma e adentrar em um mar de lama devido a vários fatores externos a ele, como transações com a Europa e altíssimos salários, e jogadores parecem contagiados por isso. Um dos lances mais emblemáticos dessa fase negra aconteceu nesse fim de semana: o gol que não entrou validado pelo bandeirinha e pelo juiz a favor do Atlético, no Paraná. Mas nem pelo gol: o que mais marcou foi o jogador, que fez um gol que não existiu, comemorando o tento. Ele sabia que a bola não havia entrado, até tinha ficado nervoso por ter desperdiçado lance tão claro, e mesmo assim saiu alegre em direção ao meio de campo, abraçando seus também eufóricos companheiros, numa amoral demonstração de, no mínimo, total falta de espírito esportivo. Não conseguiu nem ser decente o suficiente para admitir ao juiz que a bola não havia entrado; tratou de correr logo para longe dali e perpetrar uma lamentável e constrangedora farsa. Triste.

E se “Pret-a-Porter” pode ser considerado um dos piores filmes de todos os tempos, é devido à impressionante arrogância de Robert Altman. Temos, aqui, um cineasta inegavelmente habilidoso; cercado de um elenco estelar, fazendo um filme que se pretende irônico e mordaz em seu retrato do mundo da moda. Mas tudo desanda quando esse mesmo cineasta resolve agir de forma mais perniciosa e indolente do que aqueles que parece criticar. A asquerosa seqüência do desfile de nus é o ápice de toda a prepotência do diretor, que paira soberano sobre seus personagens e sobre sua história, transformando-se em uma espécie de Deus, impondo aquilo que acredita ser a “verdade” e rindo solto de tudo aquilo que considera medíocre e vazio em seus estereotipados retratados. Assim, Altman transformou sua obra em um verdadeiro tratado de ignorância e de futilidade – nesse caso, a sua própria.

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