sexta-feira, junho 17, 2005

 

Punk's not dead?

Ouvir "Mais Podres do que Nunca", dos Garotos Podres, é uma experiência interessante, principalmente por causa de suas letras. Não só por serem reproduções de palavras de ordem que davam voz aos proletários da época, e que hoje soam pueris e demasiado ingênuas, mas principalmente pelo enfoque dado a isso. Culpar o sistema a todo custo, e eximir o indivíduo de qualquer culpa é coisa bem covarde. Parece ser até um blá-blá-blá populista bem ralo, coisa de sindicato querendo explorar trabalhadores em prol de um "bem comum". Ao que parece, não foi à toa que alcançaram certo sucesso...

Já com o Cólera a história é diferente. Mesmo que "Tente Mudar o Amanhã" seja um disco longo e por vezes meio repetitivo, seu discurso é muito melhor direcionado, canalizado via um instrumental de respeito, pouco usual em bandas punk do período. O tom de voz de Redson, por ora agressivo, por ora mais introspectivo, nunca deixa de transmitir raiva e desesperança com o ser humano e de fazer eco com suas concisas letras, que acreditam ser o indivíduo o responsável por suas próprias mazelas, e não a sociedade. Com essa visão menos demagógica do mundo, são relevantes até hoje.

E o Hino Mortal, banda que conta nos vocais com o ledário Índio, fundador daquela que é considerada a primeira banda punk do Brasil, o Restos de Nada, é professoral em seu principal registro fonográfico, o vinil "ABC Hardcore Volume 3", que prensou uma fita demo histórica, datada de 1986. Trata-se de uma verdadeira aula de como se desconstrói a música, com tudo desencontrado e propositalmente fora de ritmo, e de como se usa uma banda para fins não artísticos, e sim ideológicos, de forma honesta e desencanada, sem deixar de ser raivosa e provocadora. Bem próximo daquilo que se convencionou chamar de punk, e como poucas vezes se viu por aqui.

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